Guaraná

Cadê o Guaraná de Maués?

Alguém sabe onde está o guaraná de Maués, ou do Amazonas?

20 de dez. de 2024
imagepor Renan Dias
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O guaraná é um dos produtos mais emblemáticos da biodiversidade brasileira, e o Brasil é o maior produtor mundial, com destaque na produção em estados como Bahia e Amazonas. Embora existam plantações menores na Venezuela e no Peru, a liderança brasileira é inquestionável. No Brasil, a Bahia se consolidou como o maior estado produtor de guaraná, representando 70,3% da produção nacional, enquanto o Amazonas contribui com 25,6% e outros estados somam apenas 3,2%​. Essa produção está espalhada por mais de 70 municípios no país​, segundo levantamento da Conab.

Entretanto, surge uma pergunta intrigante: "Cadê o guaraná de Maués?" ou melhor, "Cadê o guaraná do Amazonas?". Originário da região amazônica, seria natural que o estado liderasse a produção, mas são os muncipios do sul da Bahia, localizada no Nordeste, que ocupam esse posto. O que explica essa mudança de protagonismo?

Cadê o Guaraná do Amazonas?

A discrepância na produção entre a Bahia e o Amazonas pode ser explicada por diversos fatores estruturais e logísticos. A Bahia, além de deter a maior parte das terras destinadas ao cultivo agrícula, apresenta uma infraestrutura terrestre bem desenvolvida, o que facilita o transporte e reduz os custos de insumos e escoamento da produção.

Por outro lado, o Amazonas enfrenta limitações severas devido à dependência de vias fluviais e aéreas para transporte, tornando a logística mais cara e demorada​.

Outro ponto relevante é a disponibilidade de terras para expansão agrícola. No Amazonas, as liberações para novos plantios são mais restritas devido às regulamentações ambientais e ao papel dos órgãos de controle como o INCRA.

Além disso, as diferenças no calendário de colheita e comercialização também impactam a competitividade do estado.

- Com base no levantamento da Conab.

Na Bahia, a colheita começa em outubro, com comercialização intensa já em novembro e dezembro.

No Amazonas, a colheita ocorre no mesmo período, mas a comercialização é mais tardia, intensificando-se apenas em março. Essa diferença está diretamente ligada ao regime das águas dos rios amazônicos, que dificulta o transporte durante o período de estiagem e melhora apenas com a subida dos níveis dos rios em dezembro​.

Apesar desses desafios, é importante destacar que o guaraná produzido no Amazonas é altamente valorizado pela sua qualidade superior nos níveis de cafeína. Segundo o censo realizado pelo IBGE em 2018, o estado deteve o maior valor agregado por quilo de guaraná, o que compensa, em parte, a sua menor participação no volume total de produção nacional​.

Em 2018, o guaraná de Maués foi reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com o selo de Indicação Geográfica (IG), na modalidade de Indicação de Procedência, graças ao esforço conjunto da Prefeitura de Maués, do Sebrae-AM, da Fucapi, da Embrapa e da Sepror-AM.

Em entrevista, em 2018 o prefeito de Maués Junior Leite, destacou que o setor, que atualmente conta com 2,5 mil produtores, gerou durante o período de colheita em 2017, mais de 300 empregos diretos, e passará por um novo ciclo, uma vez que o guaraná “Made in Maués” será mais valorizado no mercado nacional e internacional.

Entre 2017 e 2019, a produção de guaraná no município de Maués experimentou um avanço significativo. Esse crescimento pode ser atribuído ao reconhecimento do guaraná de Maués pelo selo de Indicação Geográfica (IG), que passou a atestar a qualidade e a procedência do fruto produzido na região. Além disso, o então prefeito Junior Leite lançou um programa de modernização das lavouras, que trouxe novas técnicas e recursos para os produtores, fomentando a produtividade e fortalecendo a cadeia produtiva.

Esse período de alavancagem gerou otimismo entre os produtores locais, que passaram a enxergar o guaraná não apenas como um cultivo tradicional, mas como uma oportunidade estratégica para agregar valor e consolidar Maués como referência nacional na produção do fruto.

Contudo, entre 2019 e 2020, a pandemia da Covid-19 trouxe um cenário adverso. A crise sanitária paralisou boa parte das atividades agrícolas e desestimulou a produção, afetando diretamente o programa que vinha em ritmo acelerado. A interrupção também dificultou a mobilização de produtores, reduzindo a capacidade de cooperação e desacelerando o progresso rumo à consolidação do setor no município.

Apesar dos desafios, idéias como a modernização das lavouras e as parcerias firmadas continuam sendo cruciais para envolver os produtores rurais em uma rede de cooperação e propósito, fortalecendo a cadeia produtiva. A visão de transformar a produção do guaraná em uma atividade de alto valor agregado precisa ser mantida como um pilar para o desenvolvimento sustentável da região.

Um exemplo bem-sucedido é a Fazenda Santa Helena, que se destaca na produção de guaraná para a Ambev, sendo responsável pelo insumo utilizado no icônico refrigerante Guaraná Antarctica. Com práticas modernas de cultivo e foco na qualidade, a fazenda simboliza o potencial da região em unir tradição e inovação para gerar produtos de excelência, consolidando o papel do Amazonas na produção nacional de guaraná.

Considerações

- Então, se algum dia me perguntarem, - "onde está o guaraná de Maués?" -Certamente eu direi!

- O guaraná de Maués, ou do Amazonas, é muito mais do que uma planta ou um fruto; é um símbolo da dedicação e do trabalho árduo das pessoas da região. Está nas mãos dos produtores rurais, que, com seu suor, tornam o cultivo possível, garantindo a sustentabilidade e o sustento de inúmeras famílias. Está na Fazenda Santa Helena, que beneficia mais de 1.500 famílias com seu trabalho. Também está nos programas de desenvolvimento da prefeitura, que incentivam o crescimento local e a valorização da produção. E, claro, está no tão aguardado selo de Indicação Geográfica (IG) que Maués conquistou, reconhecendo a qualidade e a tradição desse produto único e essencial para a identidade da região.

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